sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Bravo herói de nossa gente

 


Que o homem no seu cavalo
cavalga no sol, parado.

Onde a deusa de cem bocas,
hoje silêncio de moscas.

Nem tubas nem galardões.
São seis da tarde no Centro.

A fronte já não se cobre
de lauréis. Tudo azinhavre.

Nem sangue não se adivinha
na sua espada sem fio.

É verão, tudo tem pressa,
mas o homem, seu cavalo,

crina e rabo sossegados.
Até mesmo carrapatos

são de bronze se lhes tocam,
são medalhas, não há pressa.

Cavalgam no meio da praça
em coma, transe, cravados

no pedestal, condenados
a marchar sem que se movam,

a seguir em ponto morto,
a quedar sempre em seus postos,

com seus limos e seu mofo,
numa impassível viagem

para onde tudo é quieto,
quando o tempo é sempre ontem.

Eucanaã Ferraz

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