Disseram ao poeta Almutanabbi:
— As notícias sobre a sua avareza se
espalharam por todo canto, tornando-se motivo de conversas noturnas
entre muitos camaradas. Em suas poesias, porém, você louva a
generosidade e seus praticantes, e censura a prática da avareza. Não
foi você que disse em um de seus versos: “Há quem gaste seu tempo
reunindo dinheiro, por medo à pobreza: essa atitude é que é
pobre”? Todos sabem que a avareza é horrível, mas vinda de você
é ainda pior, pois você afeta orgulho e graves desígnios, e busca
ser rei. E a avareza é a negação disso tudo.
Almutanabbi respondeu:
— Minha avareza tem um motivo. Quando
jovem, mudei-me de Kufa para Bagdá e aqui cheguei com cinco moedas
de prata enroladas em um lenço. Pus-me a caminhar pelas ruas da
cidade e passei por uma frutaria na qual vi cinco melancias
fresquinhas. Gostei muito delas e, querendo comprá-las com minhas
moedas, dirigi-me ao fruteiro perguntando: “Por quanto você está
vendendo estas cinco melancias?”. Ele respondeu com indiferença:
“Vá embora, isto não é para você comer”. Avancei para ele e
insisti: “Fulano, deixe de me irritar e diga o preço!”. Ele
respondeu: “Dez moedas de prata”. Fiquei tão chocado que não
consegui pechinchar. Parei perplexo e lhe ofereci as cinco moedas,
mas ele não aceitou. Então, passou um velho mercador que fechara a
loja e agora ia para casa. O fruteiro correu até o homem, rogou a
Deus por ele e disse: “Meu amo, tenho aqui melancias frescas. O
senhor me autoriza a carregá-las para a sua casa?”. O velho
respondeu: “Ai de ti! Quanto custam?”. Respondeu: “Cinco moedas
de prata”. O homem retrucou: “Pago duas moedas”, e por duas
moedas de prata o fruteiro vendeu as cinco melancias ao mercador,
carregou-as até a sua casa, rogou a Deus por ele e, tendo feito
aquilo, retornou feliz para a frutaria. Perguntei-lhe: “Fulano,
nunca vi nada mais espantoso do que a sua estupidez. Você exigiu de
mim um valor bem alto pelas melancias, mas depois fez o que fez! Eu
havia lhe oferecido cinco moedas pelas melancias, e você as vendeu
por duas, e as carregou até a casa do homem!”. Ele respondeu:
“Cale-se! Esse homem possui cem mil moedas de ouro!”. Aprendi
então que os homens não dignificam senão quem eles suponham ter
cem mil moedas de ouro. E eu permanecerei da maneira que você está
vendo até ouvir as pessoas dizerem que Almutanabbi possui cem mil
moedas de ouro.
Mamede Mustafa Jarouche (tradutor), in Histórias para Ler Sem Pressa
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