Os
loucos esperaram o sábado inteiro. Comportados, cada um em seu lugar
habitual. Uns enrolando os dedos, outros fingindo-se de Napoleão,
relinchando como cavalo, gritando como insanos, andando de boca
aberta, babando, rindo à toa, revirando os olhos, falando sozinho,
escrevendo no ar, desenhando no céu.
A
partir de duas horas, todos esperaram. O portão foi aberto, o pátio
varrido, os saguões lavados, os banheiros desinfetados. Colocaram
flores de plástico nas cabeceiras das camas. Todos trocaram roupas,
alguns receberam permissão para não usar a camisa de força, as
janelas foram abertas para arejar.
Cada
louco colocou-se no seu lugar habitual, ali onde os parentes sadios
estavam acostumados a encontrá-los. Sentados na beira da cama,
deitados em baixo dela, acomodados em bancos, ou com os bancos
acomodados neles, de pé junto aos portais, encostados em colunas,
ajoelhados em degraus, bebendo água da fonte, brincando no jardim,
correndo em volta do pátio.
Se
os parentes sadios chegavam e não encontravam o louco fazendo as
coisas de costume, sofriam grande perturbação. Ansiavam, corriam a
indagar o que estava acontecendo, alarmavam-se ante a possibilidade
de estarem curados. Gritavam, arrancavam os cabelos, as mulheres
desmaiavam, os homens sofriam palpitações. Às vezes, o próprio
louco ajudava a socorrer, dando calmantes, chamando os psiquiatras de
plantão, dando assistência, até que a calma se restabelecesse e os
parentes sadios pudessem voltar para casa.
Neste
sábado, os loucos estranharam. Os portões se abriram às onze
horas. Não havia ninguém diante dele. O tempo passou, os loucos
almoçaram e continuaram a esperar, agora um pouco ansiosos. Ninguém
vinha. O que estava acontecendo? À medida que o dia avançava e os
parentes não chegavam, os loucos começaram a ter atitudes
estranhas. Queriam sair do sanatório, queriam telefonar para pedir
notícias, andavam agitados de um lado para outro, enrolando os
dedos, gingando, murmurando frases incompreensíveis, gritando
alucinados, tentando subir nas paredes, querendo se enroscar nos
bocais, como se fossem lâmpadas, procurando se enfiar nos buracos do
jardim, como se fossem formigas, rastejando como cobras, zurrando
como animais, sorrindo como débeis mentais, escrevendo no ar,
desenhando no céu, revirando os olhos. Todos preocupados.
Faltava
pouco para as seis, os portões continuavam abertos e nenhuma visita
se aproximava. Ante o barulho de um carro passando na estrada, os
loucos se excitavam. A tensão era insuportável. Estariam loucos os
parentes sadios?
Quando
os vigilantes fecharam os portões e as sinetas tocaram para todos se
recolherem ao refeitório, a tensão explodiu e eles começaram a
gritar. E de sua janela, vendo os loucos a subirem as escadas,
torcendo-se naquela dor interna irremediável, o diretor sentiu. Os
loucos tinham-se tornado loucos.
Ignácio
de Loyola Brandão, in Cadeiras proibidas
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