Dois
esquadrões da morte disputavam o campeonato de outono. O que tinha
como logotipo o escorpião levava certa vantagem sobre o que inseria
na lapela, em gótico, a palavra Justice. Cinquenta e cinco
massacrados, por conta do primeiro, e trinta e oito, de iniciativa do
segundo, eram os números computados até a primeira quinzena de
abril.
O
grupo Justice, sentindo-se em inferioridade, reagiu
empreendendo caçada espetacular, mas o Escorpião parecia disposto a
levar-lhe a palma, e toda a periferia urbana ficou juncada de corpos.
Uns
tantos indivíduos marcados para morrer, em vez de se entregarem ao
pânico, decidiram enfrentar o Escorpião e o Justice,
formando o terceiro esquadrão, que saía pela madrugada com ânimo e
munição suficientes. Ocorreram inúmeras baixas, inclusive por
engano.
Achando-se
em perigo, os dois esquadrões tradicionais puseram de lado os
melindres e fundiram-se numa hiperorganização. O terceiro grupo,
cujo símbolo era o lobisomem, acabou achando mais útil entrar em
negociações e compor-se com os adversários. O que foi feito.
Constituem hoje uma força invencível, disposta a acabar com todos
os inocentes da cidade.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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