Noto
uma coisa extremamente desagradável. Estas coisas que ando
escrevendo aqui não são, creio, propriamente crônicas, mas agora
entendo os nossos melhores cronistas. Porque eles assinam, não
conseguem escapar de se revelar. Até certo ponto nós os conhecemos
intimamente. E quanto a mim, isto me desagrada. Na literatura de
livros permaneço anônima e discreta. Nesta coluna estou de algum
modo me dando a conhecer. Perco minha intimidade secreta? Mas que
fazer? É que escrevo ao correr da máquina e, quando vejo, revelei
certa parte minha. Acho que se escrever sobre o problema da
superprodução do café no Brasil terminarei sendo pessoal. Daqui em
breve serei popular? Isso me assusta. Vou ver o que posso fazer, se é
que posso. O que me consola é a frase de Fernando Pessoa que li
citada: “Falar é o modo mais simples de nos tornarmos
desconhecidos.”
Clarice
Lispector,
in Crônicas
para jovens: de escrita e vida
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