Quer
se trate de átomos, quer se trate de natureza, firmemos primeiro que
sou uma parte do todo governado pela natureza; depois, que estou
relacionado intimamente com as partes do mesmo gênero que eu.
Lembrando-me disso, enquanto sou uma parte não estarei descontente
com coisa alguma das que me foram designadas pelo todo; nada do que
beneficia o todo é prejudicial à parte. Não há coisa alguma no
todo que não o beneficie, tendo todas as naturezas isso em comum;
mas com a natureza do mundo ainda ocorre que não pode ser compelida
por nenhuma causa exterior a gerar coisa alguma que lhe seja
prejudicial. Recordando-me, então, de que sou parte de um todo
assim, estarei contente com tudo que acontecer. Mas enquanto estou
ligado intimamente, de certo modo, com as partes do mesmo gênero que
eu, nada farei de contrário à vida comunitária; ao invés, terei
em vista os que forem do mesmo gênero que eu e dirigirei todos os
meus esforços no sentido do bem comum e evitarei tudo que lhe for
contrário. Tudo sendo feito assim, a vida correrá necessariamente
bem, como se imaginaria o curso feliz da vida de um cidadão que, à
proporção que avançasse, praticasse uma sequência de ações
proveitosas a seus concidadãos e se contentasse com o que a
comunidade lhe concedesse.
Marco
Aurélio, in Meditações
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