Eram
esses os nossos lugares à mesa na hora das refeições, ou na hora
dos sermões: o pai à cabeceira; à sua direita, por ordem de idade,
vinha primeiro Pedro, seguido de Rosa, Zuleika, e Huda; à sua
esquerda, vinha a mãe, em seguida eu, Ana, e Lula, o caçula. O
galho da direita era um desenvolvimento espontâneo do tronco, desde
as raízes; já o da esquerda trazia o estigma de uma cicatriz, como
se a mãe, que era por onde começava o segundo galho, fosse uma
anomalia, uma protuberância mórbida, um enxerto junto ao tronco
talvez funesto, pela carga de afeto; podia-se quem sabe dizer que a
distribuição dos lugares na mesa (eram caprichos do tempo) definia
as duas linhas da família.
O
avô, enquanto viveu, ocupou a outra cabeceira; mesmo depois da sua
morte, que quase coincidiu com nossa mudança da casa velha para a
nova, seria exagero dizer que sua cadeira ficou vazia.
Raduan
Nassar, in Lavoura Arcaica
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