O
vício arrecada sobre a atividade do ocioso quatro espécies de
impostos: a perda do tempo, a perda do estímulo, a perda da saúde e
a perda do dinheiro. A importância desse quádruplo desfalque
poderia ser precisamente computada em algarismos por quem se
propusesse a sindicar, pelo sistema das monografias empregado hoje
nos inquéritos sociais, a voracidade do parasita multiforme
comparando, no orçamento do jogador, ou do dissoluto, o quinhão da
família com o das suas abjetas rivais: a batota, a mancebia, a
crápula, a taverna.
Uma
inexorável maldição lhes mirra a atividade, definhando-lhes os
recursos para os deveres mais sagrados. Tudo em torno deles acusa a
esterilidade das coisas precitas: o traje é descuidado, a casa nua,
o pão raro, servil a condição da esposa, a instrução dos filhos
grosseira, as dívidas a monte, frequentes os desaires, as privações
infinitas, o cálice da vida azedo, odioso, incomportável. Mas, se
pudésseis contar as horas e as somas continuamente absorvidas pela
madraçaria viciosa aos chefes dessas colônias de infelizes,
verificaríeis que esses prejuízos representam verdadeiras riquezas,
opulências incalculáveis, que a providência e o trabalho teriam
multiplicado, mas as dissipações criminosas extraviam e devoram.
Rui
Barbosa, in Antologia
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