O
teste é o chopinho. O chopinho é definitivo. Quem sentaria aqui com
a gente pra tomar um chopinho, quem não sentaria. Vale para todas as
épocas, todos os povos, todas as categorias.
— Por
exemplo?
— Revolução
Francesa. Danton sentaria para tomar um chopinho.
— Robespierre,
nem pensar.
— Exato.
— Lenin
sentaria?
— Nunca.
Já o Trotski, sim.
— E
o Stalin?
— Sentaria,
mas ficaria um clima ruim.
— De
Gaulle, não.
— Churchill
sim.
— Hitler?
— Hmmm,
os alemães são um problema. Em tese, nenhum alemão recusa um
chope, e todos tomam com o mesmo gosto. Seja Bismark, Goethe,
Nietzsche, Marx ou Marlene Dietrich.
— Com
alemão, então, o chopinho não prova nada.
— O
chopinho sozinho, não. É preciso acrescentar outro elemento
definidor. Outro teste de tolerância, bom humor e simpatia.
— Qual?
— O
bolinho de bacalhau.
— No
carnaval, sou Salgueiro.
— Certo.
— No
futebol, Botafogo.
— Sim.
Continue.
— Como,
continue?
— Água
mineral. Com ou sem gás?
— Com.
— No
cafezinho: açúcar ou adoçante?
— Adoçante.
— Prossiga.
— Bom.
Deixa ver. Heterossexual. Destro. Não fumante. Prefiro o inverno ao
verão... Que mais?
— Acende
o fósforo para lá ou para cá?
— Nunca
notei. Acho que para lá.
— Abotoa
a camisa de cima para baixo ou de baixo para cima?
— De
cima para... Não. De baixo para cima. Não! Não sei.
— Como,
não sabe? É a hora das definições. Melhor Papa.
— Melhor
Papa?! Sei lá. João Vinte e Três.
— Melhor
Robin Hood.
— Errol
Flynn, disparado.
— Gil
ou Caetano?
— Os
dois.
— Não
pode. Tem que ser um ou outro.
— Por
quê? Eu não estou preparado. Preciso pensar!
— Foi
você que começou. Freud ou Jung? Bach ou Mozart? Sautées,
cozidas ou fritas?
— Espere,
eu...
— Com
fivela ou sem fivela? Rápido!
Luís
Fernando Veríssimo, in A mesa voadora
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