Da lasca do tempo que herdei,
etiqueto o mundo:
etiqueto o mundo:
digo
pedra a pedra, digo chão o chão,
digo brisa a brisa, digo carne a carne,
digo faca a faca, digo sangue o sangue
e assim por diante e diante.
digo brisa a brisa, digo carne a carne,
digo faca a faca, digo sangue o sangue
e assim por diante e diante.
Narro
o ato a partir do nome
dado a cada algo recortado
no quadro divisado pelos olhos
carregados e pesados de todo
o visto e vivido e passado;
dado a cada algo recortado
no quadro divisado pelos olhos
carregados e pesados de todo
o visto e vivido e passado;
não
digo fome, digo resto digo esquálido,
não digo amor, digo gozo digo esteio,
não digo medo, digo mordaça digo túmulo,
não digo ódio, digo tortura digo punhal.
não digo amor, digo gozo digo esteio,
não digo medo, digo mordaça digo túmulo,
não digo ódio, digo tortura digo punhal.
Narrar
é tudo: fazer verdade
da mentira inquestionável a
partir do presente do indicativo
das manchetes de jornal:
o cisco transmuta-se trave
a trave transmuta-se viga
a viga transmuta-se barra
ao sabor da pujança adjetiva;
da mentira inquestionável a
partir do presente do indicativo
das manchetes de jornal:
o cisco transmuta-se trave
a trave transmuta-se viga
a viga transmuta-se barra
ao sabor da pujança adjetiva;
e,
no entanto, dizer é pouco, pois
se digo chão o sangue, o sangue não é chão,
se digo pedra a faca, a faca não é pedra,
se digo brisa a carne, a carne não é brisa:
uma hora ou outra se evidencia
a fraude, a farsa, a força
da ilusão tão fraca.
se digo chão o sangue, o sangue não é chão,
se digo pedra a faca, a faca não é pedra,
se digo brisa a carne, a carne não é brisa:
uma hora ou outra se evidencia
a fraude, a farsa, a força
da ilusão tão fraca.
O
problema não é dar a ver o que ninguém percebe,
mas apontar diuturnamente
para o que, de tão visto,
tornou-se invisível e
de novo fazê-lo evidente.
mas apontar diuturnamente
para o que, de tão visto,
tornou-se invisível e
de novo fazê-lo evidente.
Yuri
Pires
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