terça-feira, 16 de julho de 2019

O amor em resumo

O amor da humanidade, quando nasce do sofrimento, é como a sabedoria vinda do infortúnio. Nos dois casos, as raízes são podres e a fonte contaminada. Só um amor espontâneo proveniente de uma abnegação sincera e de um elan irresistível pode fecundar a alma dos outros. O amor que vem do sofrimento traz lágrimas e suspiros demais para que seus raios não sejam banhados por uma amarga claridade. Ele contém tanta renúncia, tormento e inquietude que não pode significar outra coisa que não um imenso retiro. Ele perdoa tudo, admite tudo e tudo justifica; é isto ainda amor? Como pode amar aquele que se sente desvinculado de tudo? Este tipo de amor revela o vazio de uma alma pega entre o nada e o tudo, da mesma forma que, para um coração quebrado, o donjuanismo permanece o único recurso. Quanto ao cristianismo, ele ignora o amor: ele conhece apenas a indulgência, que é mais uma alusão ao amor do que amor propriamente dito.
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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