quarta-feira, 10 de julho de 2019

Clandestino

Na penumbra da tarde,
o mundo morto,
a meu passo, despertava.

Não era o amor
que eu procurava.
Buscava o amar.

Na casa em ruínas,
te despias
para que me deixasse cegar.

Voz transpirada,
suplicavas que te chamasse no escuro.

Em ti, porém,
eu amava
quem não tem nome.

Na casa arruinada
te amei e te perdi
como a ave que voa
apenas para voltar a ter corpo.

Na penumbra da tarde,
tu me ensinaste a nascer.

Na noturna claridade
me esqueci
que nunca havias nascido.
Mia Couto

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