O
sol começava a se pôr lentamente sobre os telhados da cidade, o
vento refrescava ligeiramente, e estávamos tristes. Em todo caso
fomos até o self-service ver se a moça de calça de veludo ainda
estava à nossa espera. Claro que não estava. Eram seis e meia.
Voltamos para o carro. Sentimo-nos de repente como dois homens
banidos de uma cidade estrangeira e de suas alegrias, e só nos
restava procurar refúgio no território de nosso carro, que parecia
gozar do privilégio da extraterritorialidade.
— Vamos!
— gritou Martin já dentro do carro. — Não faça essa cara de
enterro, o principal está para acontecer.
Tive
vontade de responder que só dispúnhamos de uma hora para o
principal, por causa de Georgina e de seu jogo de cartas, mas preferi
me calar.
— Aliás
— acrescentou Martin —, o dia foi bom. Cerco da garota de
Puzdrany, abordagem da moça de calça de veludo; tudo está
preparado para nós nesta cidade, basta que voltemos uma outra vez.
Eu
nada respondi. É, o cerco e a abordagem tinham sido perfeitamente
bem-sucedidos. Tudo estava em ordem. Mas tive de repente a impressão
de que Martin não conseguira nada de sério neste último ano, fora
os cercos e abordagens.
Fiquei
olhando para ele. Seus olhos brilhavam como de costume com sua luz
eternamente ávida; naquele momento senti como lhe queria bem, como
eu admirava a bandeira atrás da qual ele desfilou toda a vida: a
bandeira da eterna busca de mulher.
O
tempo passava e Martin disse: — São sete horas.
Estacionamos
o carro a uns dez metros do portão do hospital, para que eu pudesse
observar a entrada pelo retrovisor.
Continuava
pensando naquela bandeira. Pensei que o alvo desta procura, à medida
que passam os anos, é muito menos a mulher e cada vez mais a procura
em si. Com a condição de que se trate de uma busca antecipadamente
inútil, podemos a cada dia perseguir um número infinito de
mulheres e dessa maneira transformar a caça numa caça absoluta. É,
Martin se colocava na situação da caça absoluta.
Estávamos
esperando havia cinco minutos. As moças não apareciam.
Isso
não me inquietava absolutamente. Que elas viessem ou não, não
tinha a menor importância. Pois se viessem, poderíamos nós, em uma
hora, levá-las a um chalé distante, conquistar-lhes a confiança,
deitar com elas, pedir licença às oito horas e depois ir embora?
Não, a partir do momento em que Martin tinha decidido que tudo
deveria terminar às oito, havia reduzido nossa aventura a um jogo
ilusório.
Estávamos
esperando havia dez minutos. Ninguém aparecia na entrada do
hospital.
Martin
indignava-se e quase gritou:
— Vou
dar mais cinco minutos, não espero mais do que isso.
Martin
não é mais jovem, pensava eu. Ama muito fielmente sua mulher. Na
verdade, leva a vida conjugal mais bem-comportada que existe. Esta é
a realidade. E acima dessa realidade, a nível de uma inocente e
comovente ilusão, a juventude de Martin continua: juventude
inquieta, turbulenta e pródiga, reduzida a um simples jogo que não
chega a atravessar os limites do ringue para alcançar a vida e
concretizar-se na realidade. E como Martin é o cavaleiro cego da
Necessidade, dá a essas aventuras a inocência do Jogo, sem ao
menos se dar conta; continua a colocar nelas todo o ardor de sua
alma.
Bem,
pensava eu, Martin é prisioneiro de sua ilusão, mas e eu? E eu? Por
que lhe faço companhia neste jogo ridículo? Eu, que sei que tudo
isto é um engano? Não seria mais ridículo ainda do que Martin? Por
que fingir esperar por uma aventura amorosa quando sei muito bem que
o máximo que pode acontecer é perder uma hora, estragada
antecipadamente, com duas mulheres desconhecidas e indiferentes?
Foi
aí que vi pelo retrovisor as duas mulheres atravessarem o portão do
hospital. Mesmo a essa distância podia se notar o efeito do
pó-de-arroz e do batom em seus rostos; estavam vestidas com uma
elegância exagerada e o atraso estava certamente ligado a isto.
Olharam em torno e se dirigiram para nosso carro.
— Deixa
para lá, Martin — disse eu, fingindo não ver as duas moças. —
Já se passaram quinze minutos. Vamos embora. — E pisei no
acelerador.
Milan
Kundera, in Risíveis amores
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