Estava
descendo a escada rolante no hipódromo depois do 6 o páreo quando o
garçom me viu. “Está indo pra casa agora?”, perguntou.
“Eu
não faria isso com você, amigo”, disse pra ele.
Os
coitados têm que trazer comida da cozinha do hipódromo para os
andares de cima carregando uma quantidade enorme nas bandejas. Quando
os clientes fogem sem pagar, são eles que pagam a conta. Alguns dos
apostadores sentam em quatro numa mesa. Os garçons poderiam
trabalhar o dia inteiro e ainda dever dinheiro ao hipódromo. E os
dias cheios são os piores, os garçons não podem vigiar todo mundo.
E quando são pagos, os apostadores dão umas gorjetas miseráveis.
Desci
para o primeiro andar e fui para fora, fiquei tomando sol. Estava
ótimo lá. Talvez eu venha para o hipódromo e só fique tomando
sol. Raramente penso em escrever lá, mas o fiz desta vez. Pensei em
algo que tinha lido recentemente, que eu era provavelmente o poeta
americano mais vendido e o mais influente, mais copiado. Que
estranho. Bem, à merda com isso. Tudo que importava era a próxima
vez que eu sentaria no computador. Se ainda pudesse fazer isso,
estaria vivo; se não, tudo o que tinha acontecido antes pouco
significaria para mim. Mas o que estava fazendo, pensando sobre
escrever? Eu estava pirando. Não pensava sobre escrever nem mesmo
quando estava escrevendo. Daí, ouvi a chamada para a largada, dei a
volta, entrei e fui de novo para a escada rolante. Na subida, passei
por um cara que me devia dinheiro. Ele olhou para baixo. Fingi que
não o tinha visto. Não fez a menor diferença depois que ele me
pagou, porque pediu a grana emprestada de volta. Um velho veio até
mim, mais cedo: “Me dá 60 centavos!”. Isso era suficiente para
uma aposta de dois paus, mais uma chance para sonhar. Era um lugar
desgraçado e triste, mas quase todos os lugares são. Não havia
outro lugar para ir. Bem, havia, você poderia ir para o seu quarto e
fechar a porta, mas daí sua mulher ia ficar deprimida. Ou mais
deprimida. A América era a Terra das Esposas Deprimidas. E era culpa
dos homens. Claro. De quem mais? Não se poderia culpar os pássaros,
os cachorros, os gatos, as minhocas, os ratos, as aranhas, os peixes,
os etc. Eram os homens. E os homens não podiam se permitir ficar
deprimidos, se não o barco inteiro afundava. Bem, que diabos.
Voltei
à minha mesa. Três caras estavam na mesa ao lado e tinham um
garotinho com eles. Cada mesa tinha um pequeno aparelho de tv, só
que o deles estava ligado no volume MÁXIMO. O garoto tinha ligado
numa comédia e era legal que os homens deixassem o garoto ver seu
programa. Mas ele não estava prestando a menor atenção a ele, não
estava ouvindo, estava sentado lá empurrando um pedaço de papel
enrolado. Ele jogava o papel contra as xícaras, e daí pegava o
papel e jogava dentro de uma outra xícara. Algumas das xícaras
estavam cheias de café. Mas os homens continuaram a falar sobre
cavalos. Meu Deus, aquela tv estava ALTA. Pensei em dizer alguma
coisa pros caras, pedir que abaixassem um pouco a tv. Mas eram pretos
e iriam pensar que eu era racista. Saí da mesa e fui até os
guichês. Não tive sorte, entrei numa fila lenta. Na frente, tinha
um cara velho com dificuldade de fazer suas apostas. Estava com a sua
lista aberta na frente do guichê, junto com seu programa, e hesitava
muito sobre o que queria fazer. Provavelmente, vivia num asilo de
velhos ou em algum tipo de instituição, mas saiu para passar um dia
no hipódromo. Bem, não existe nenhuma lei contra isso e nenhuma lei
contra ele estar atrapalhado. Mas, de alguma forma, incomodava.
Jesus, não tenho que sofrer isso, pensei. Tinha memorizado a parte
de trás de sua cabeça, suas orelhas, suas roupas, as costas
curvadas. Os cavalos estavam se aproximando do partidor. Todo mundo
estava gritando com ele. Ele nem notou. Então, dolorosamente, o
vimos pegar a carteira lentamente. Câmera lenta, lenta. Abriu-a e
olhou dentro dela. Daí, enfiou os dedos lá dentro. Não quero mais
continuar. Finalmente, pagou, e o bilheteiro lentamente devolveu o
troco. Daí, ele ficou lá olhando o dinheiro e as pules, voltou-se
para o bilheteiro e disse: “Não, eu queria a dupla exata 6-4, não
era isso...”. Alguém gritou uma obscenidade. Saí dali. Os cavalos
saltaram do partidor e fui ao banheiro mijar.
Quando
voltei, o garçom tinha minha conta pronta. Paguei, dei uma gorjeta
de 20% e agradeci.
“Te
vejo amanhã, amigo”, disse ele.
“Talvez”,
eu disse.
“Você
vai estar aqui”, disse ele.
Os
outros páreos continuaram. Apostei cedo no 9 o e fui embora. Saí 10
minutos antes da formação. Entrei no meu carro e saí. No final do
estacionamento no Century Boulevard, ao lado do sinal, havia uma
ambulância, um carro de bombeiros e dois carros da polícia. Dois
carros tinham batido de frente. Havia vidro por todo lado, os carros
estavam totalmente destruídos. Alguém estava com pressa para entrar
e alguém estava com pressa para sair. Apostadores de cavalos.
Passei
pelo lado do acidente e entrei à esquerda na Century.
Mais
um dia baleado na cabeça e enterrado. Foi outro sábado de tarde no
inferno. Dirigi junto com os outros.
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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