“Devemos
escolher como finalidade independente do nosso esforço o
conhecimento da verdade ou, exprimindo-nos mais modestamente, a
compreensão do mundo inteligível por meio do pensamento lógico? Ou
devemos subordinar esse esforço pelo conhecimento racional de
qualquer espécie a outros objetivos, por exemplo, a objetivos
práticos? O simples pensamento não pode resolver esta questão. A
decisão tem, pelo contrário, uma influência decisiva na nossa
maneira de pensar e julgar, partindo-se do princípio de que tem o
caráter de convicção inabalável. Permitam-me que confesse: para
mim, o esforço pelo conhecimento é um daqueles objetivos
independentes, sem os quais uma afirmação consciente da vida me
parece impossível ao homem de pensamento.
Uma das
características do esforço pelo conhecimento é que ele tende a
abranger tanto a multiplicidade da experiência como a simplicidade e
redução das hipóteses fundamentais. O acordo final desses
objetivos é, devido ao estádio primitivo da investigação, uma
questão de fé. Sem essa fé, a convicção do valor independente do
conhecimento não seria para mim forte e inabalável.
Esta
atitude, por assim dizer, religiosa do cientista perante a verdade
não deixa de ter influência sobre a sua personalidade. Pois, além
daquilo que resulta da experiência e além das leis do pensamento,
não há para o investigador, por princípio, nenhuma outra
autoridade cuja decisão ou informação, por si, possa pretender ser
‘verdade’. Daí resulta o paradoxo de que o homem que dedica o
melhor dos seus esforços às coisas objetivas, se torna,
socialmente falando, um individualista extremo que — em princípio
pelo menos — em nada confia senão no seu próprio juízo. Até se
pode facilmente afirmar que o individualismo intelectual e a
ansiedade científica surgiram juntos na História, mantendo-se
sempre inseparáveis.”
Albert
Einstein, in
Como vejo o mundo
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