O
sr. Inclusive roía as unhas, preocupado. A sra. Alternativa, sua
mulher, dissera que não ia se demorar, e já se haviam passado cinco
horas sem que ela voltasse.
— Com
Alternativa não se pode ficar sossegado — resmungava ele. —
Inclusive já pedi a ela que percorresse sempre o mesmo caminho de
volta, que é o mais curto e o mais seguro. Não quer me ouvir,
prefere dar voltas. Alega que assim está sempre experimentando novas
possibilidades de caminho, e quem sabe se não descobrirá um dia a
mais favorável.
A
sra. Alternativa, postada diante de uma bifurcação, hesitava na
escolha de rumos. E consultando um caderninho, monologava:
— Meu
problema é escolher entre dois caminhos, mas eu preferia que a
escolha fosse entre nove ou dez. O bom seria que de uma alternativa
derivasse outra alternativa, e assim por diante, gerando número
infinito de opções. O Inclusive não compreende isto. Fica pensando
que todas as alternativas podem se englobar no processo de inclusão.
Ele esquece que todo inclusive tem a alternativa de um exclusive
(aliás, de muitos). Isso torna a nossa vida conjugal bastante
monótona. Pensando bem, só há uma alternativa para mim: o divórcio
ou um amante sensível às variantes da vida.
— Inclusive
já pensei em matá-la — disse consigo o marido, à mesma hora,
andando de um lado para outro. — Como é que eu posso viver com uma
mulher que inclusive não tem hora de chegar em casa?
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
Nenhum comentário:
Postar um comentário