segunda-feira, 22 de abril de 2019

A beleza das chamas

O charme das chamas subjuga por meio de um estranho jogo, para além da harmonia, das proporções e das medidas. Seu impalpável élan, acaso, não simboliza a tragédia e a graça, o desespero e a inocência, a tristeza e a volúpia? Não se reencontra, em sua devorante transparência e sua ardente imaterialidade, a projeção e a leveza das grandes purificações e dos incêndios interiores? Eu adoraria ser inundado pela transcendência das chamas, ser abalado por seu sopro delicado e insinuante, flutuar num mar puro e sublime, que me remetesse a uma aurora. Imaterial, a morte nas chamas evoca asas incandescentes. Somente as borboletas morrem assim? - Mas e aqueles que morrem de suas próprias chamas?
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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