O
charme das chamas subjuga por meio de um estranho jogo, para além da
harmonia, das proporções e das medidas. Seu impalpável élan,
acaso, não simboliza a tragédia e a graça, o desespero e a
inocência, a tristeza e a volúpia? Não se reencontra, em sua
devorante transparência e sua ardente imaterialidade, a projeção e
a leveza das grandes purificações e dos incêndios interiores? Eu
adoraria ser inundado pela transcendência das chamas, ser abalado
por seu sopro delicado e insinuante, flutuar num mar puro e sublime,
que me remetesse a uma aurora. Imaterial, a morte nas chamas evoca
asas incandescentes. Somente as borboletas morrem assim? - Mas e
aqueles que morrem de suas próprias chamas?
Emil
Cioran, in Nos cumes do desespero
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