Qual
o animal que eu gostaria de ter?, Nina me perguntou.
O
que eu gosto mais é cavalo e, entre os cavalos, eu queria ter um
Crioulo, mas podia ser de qualquer raça, Pampa, Manga-larga,
Campolina, Appaloosa, Lusitano (muito elegantes), Quarto de milha,
Árabe (se eu fosse rico), qualquer um desses, mas eu queria mesmo
era ter um Crioulo, a raça de cavalo que eu montava no Exército.
Porém, isso eu não disse para Nina.
Os
sentidos do cavalo são superiores aos dos seres humanos. O tamanho
do olho é de 5 x 6,5cm, um dos maiores entre os mamíferos
existentes, o que indica que ele depende basicamente da visão para
obter informações sobre o ambiente em que vive. Nenhum outro
mamífero tem olhos tão grandes proporcionalmente ao seu tamanho e,
ainda por cima, um em cada lado da cabeça, o que lhe permite uma
visão independente para cada olho, isto é, o cavalo pode olhar em
diferentes direções ao mesmo tempo. Eles possuem um grande senso de
equilíbrio e um sutil sentido de tato, são capazes de sentir uma
mosca pousar em qualquer parte do corpo. São inteligentes, aptos a
resolver desafios cognitivos e até mesmo a contar, se a quantidade
for até quatro. Isto tudo eu aprendi no Exército.
Mas
não mencionei nada disso para Nina. Fiz um ar pensativo.
O
segundo animal da minha preferência é o cão. Mas detesto Lulu,
Chihuahua, Schnauzer, Spitz, Pequinês etc. Gosto de cachorro grande.
Mas também isso eu não disse para Nina.
(Entre
parêntesis: a única coisa que me incomoda por não ter dinheiro é
não possuir uma estrebaria para o meu cavalo e um apartamento maior
para o meu cão. Eu moro num conjugado.)
Então,
Nina voltou a perguntar, que animal você gostaria de ter?
Eu
não ia falar em cavalo e cão para aquela bela e recatada jovem.
Você
diz primeiro, Nina, diga qual o animal que você gostaria de ter?
Eu
já tenho, ela respondeu.
Mas
qual é o animal?
Lagartixa,
ela respondeu, adoro lagartixa. Você gosta de lagartixa?
O
que eu poderia responder a uma moça que me pergunta se eu gosto do
bichinho de estimação dela?
Gosto,
gosto.
Você
não quer ir lá em casa ver a minha lagartixa?
Quero,
quero muito, respondi.
Você
precisa vê-la andando nas paredes do meu quarto.
Deve
ser uma coisa linda, respondi.
No
sábado, logo que cheguei à casa de Nina, ela me disse, os meus pais
foram viajar e nós estamos sozinhos. Vamos para o meu quarto.
As
luzes do quarto dela estavam apagadas.
Morro
de medo do escuro, posso abraçar você?, Nina perguntou, me
agarrando. Essa é a minha cama, deita aqui comigo.
Nina
tirou a roupa dela e a minha. Sou um cavalheiro e nada falarei sobre
isso.
Ah,
é mesmo, a lagartixa. Acho que ficou com medo de mim e não apareceu
quando acendemos as luzes do quarto.
Rubem
Fonseca, in Amálgama
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