Enquanto
isso mudava a vida do Chile.
Clamoroso
levantava-se o movimento popular chileno buscando entre os estudantes
e os escritores um apoio maior. Por um lado, o grande líder da
pequena burguesia, dinâmico e demagógico, Arturo Alessandri Palma,
chegava à Presidência da República, não sem antes ter sacudido o
país inteiro com sua oratória chamejante e ameaçadora. Apesar de
sua extraordinária personalidade, uma vez no poder, converteu-se no
clássico governante de nossa América; o setor dominante da
oligarquia, que ele combateu, abriu a goela e tragou seus discursos
revolucionários. O país continuou debatendo-se nos conflitos mais
terríveis.
Ao
mesmo tempo, um líder operário, Luis Emílio Recabarrén, com uma
atividade prodigiosa organizava o proletariado, formava centrais
sindicais, fundava nove ou dez jornais operários em toda a extensão
do país. Uma avalanche de desemprego abalou as instituições. Eu
escrevia semanalmente em Claridad. Os estudantes apoiávamos
as reivindicações populares e éramos espancados pela polícia nas
ruas de Santiago. A capital chegavam milhares de operários
despedidos das minas de salitre e de cobre. As manifestações e a
repressão correspondente paralisavam tragicamente a vida nacional.
Desde
aquela época e com intermitências se infiltrou a política em minha
poesia e em minha vida. Não era possível fechar-me em meus poemas,
assim como não era possível tampouco fechar a porta ao amor, à
vida, à alegria ou à tristeza em meu coração de jovem poeta.
Pablo
Neruda, in Confesso que vivi
Nenhum comentário:
Postar um comentário