Sexo, sexo, sexo. Todo mundo só fala em
sexo. Entreouçamos:
* * *
Merlusa Cavalcante, socialaite. “Acho
que fui uma adolescente normal. Minhas fantasias sexuais eram com
estrelas do cinema. Lembro que as paredes do meu quarto eram cobertas
de fotografias de atores e eu me imaginava transando com todos
eles... Rin Tin Tin, King Kong, o cavalo do Roy Rogers...”
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Diva Gar, oceanógrafa. “Minha primeira
transa foi num Volkswagen. Começou no banco de trás. Quer dizer,
meu namorado foi pro banco de trás e eu fiquei metade no banco da
frente e metade no banco de trás, sabe como é? Aí ele sugeriu que
eu botasse uma perna pela janela e dobrasse a outra por baixo do
banco da frente, no lado direito, enquanto ele tentava vir por cima
do banco do lado esquerdo, aí eu comecei a dizer ‘Ai, ai’, e ele
disse ‘Mas eu ainda não fiz nada’, e eu disse ‘Não, é que
meu ombro ficou preso embaixo do freio de mão’. Aí ele disse pra
eu recolher a perna que estava pra fora, e eu recolhi, mas fiquei com
o joelho preso no volante e apoiei o cotovelo onde não devia e o meu
namorado, coitado, deu um grito de dor. Aí eu pulei pra trás e bati
com a cabeça no parabrisa e ele saiu correndo pra chamar uma
ambulância. Aí veio a ambulância e ele foi comigo para o hospital
na parte de trás e aí, sim, deu pra transar legal porque tinha
bastante espaço e até uma cama.”
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Miro Masaferro, corretor. “Eu e minha
esposa temos relações sexuais três vezes por semana, às terças,
quintas e sábados. Terças e quintas das dez às dez e vinte e
sábados das onze às onze e quarenta, com um intervalo para
gargarejo. Religiosamente. É uma rotina que mantemos há vários
anos e que não pretendemos mudar, apesar dos protestos que ouvimos
quando, por exemplo, estamos jantando num restaurante e eu digo
‘Querida, são dez horas’ e vamos para baixo da mesa. Eu acredito
que o segredo para uma vida sexual feliz é o mesmo que para a saúde
intestinal: a regularidade. O importante é nunca falhar. Não sei
como vai ser hoje. Vamos estar num velório...”
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Toca Tamborim, estilista. “Eu acho sexo
uma coisa muito natural que acontece entre seis ou sete pessoas com
apetites normais, um pouco de creme chantilly e um desentupidor de
pia. Qual é o problema? As pessoas fazem um mistério. Ah, porque
calda de chocolate suja a cama, ou o liquidificador e o vibrador
juntos podem dar curto-circuito, e mais isso e mais aquilo. Qual é o
problema, gente? Não foi Deus que nos botou no mundo com nossos
corpos, e os arreios, e as ligas pretas? Pode haver coisa mais
natural do que gel íntimo sabor framboesa? Poxa!”
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Dico Tomia, almoxarife e poeta. “Eu
acho que o sexo tem que ser entre pessoas que se amam, ou se gostam,
ou se respeitam, ou então não se conhecem, mas não têm nada mais
para fazer entre as seis e as oito. Senão fica uma coisa mecânica,
entende?”
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Dani Ficada, maquiadora e estudante de
comunicação. “Ouvi dizer que um russo descobriu uma nova zona
erógena. Parece que é a primeira nova descoberta na área desde que
um inglês estabeleceu a exata localização do clitóris, no século
dezenove. O russo ainda não revelou onde é a nova zona erógena,
que levará o seu nome, Paprovski, mas especula-se que fica num local
inesperado, até agora pouco explorado, do corpo humano. Eu vibrei
com a notícia porque, francamente, não aguento mais sempre a mesma
coisa, sempre a mesma coisa. Né não?”
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Beto Neira, mestre de obras: “Mulher,
pra mim, é a que quica. Sabe cumé? Vai e volta. Mulher que fica no
chão, pra mim, não tem moral. Estatelada não tem perdão, qual é.
Tudo no sentido figurado, claro.”
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Dina Vio, dona de casa. “Se eu traio?
Traio. Mas com classe. Nada às pressas, sem cerimônia, sem um
tuchê. Sabe tuchê? Também, eu devo ser a última mulher no mundo
que ainda pede vermute doce.”
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Malcon Tado, tabelião e tenor: “Eu
acho que na cama vale tudo, menos legumes. Já perdi a namorada
porque disse que o meu limite era o pepino. E nos dávamos bem, ela
também é do coral da igreja...”
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Alma Naque, psicóloga: “Homem é como
fruta. Você tem que pegá-los maduros, quando não estão mais
verdes e ainda não começaram a apodrecer. Mas é um instante
fugidio.”
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Rudi Mentar, analista de sistemas:
“Língua na orelha. Decididamente, língua na orelha. O resto é
para não iniciados.”
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Flora Medicinal, motorista. “Eu gostava
muito mais do antigo método de reprodução humana. Lembra como era?
Tiravam uma costela do homem, por cesariana, sem anestesia, e faziam
outra pessoa. A mulher ficava só na vida mansa, não era nem com
ela. Depois mudou tudo e hoje a mulher é quem sofre para dar cria.
Afinal, não é? ‘Ele’ é homem. Funcionou o lobby. Classe unida
taí...”
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Constância Nureto, advogada. “Tem
homem que pensa que ‘educação sexual’ quer dizer bater antes de
entrar.”
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Xavier Nougat, cirurgião-dentista. “O
sexo é a coisa mais íntima que pode haver entre um homem e uma
mulher, fora o casamento.”
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Mara Zul, nutricionista e vidente. “Usar
o sexo só para a reprodução é como só sair com o carro para
levar na oficina.”
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Manuela Bacal, bibliotecária. “Todo
mundo conhece o sadismo, que é o sexo feito à maneira do Marquês
de Sade, e o masoquismo, que é sexo como gostava o Barão de Masoc,
mas pouca gente sabe que existem outras taras sexuais ligadas à
literatura. Por exemplo: o Jorge Luis Borgismo, quando o homem só
chega ao orgasmo sendo açoitado por uma estudante de linguística
dentro de um labirinto. O Ernest Hemingwayismo, que é quando o homem
só se satisfaz transando com uma mulher e atirando num leão, ou
vice-versa, ao mesmo tempo.”
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Mulam Bento, arquivista. “Eu sou
masoquista e minha mulher é sádica, mas o que estraga o nosso
relacionamento é o ciúme. Quando eu chego em casa com uma mancha
vermelha na camisa preciso jurar que não é sangue, é batom, senão
ela tem um ataque histérico e, como castigo, não me bate.”
Luís Fernando Veríssimo,
in Amor veríssimo
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