“Não
meto a mão no fogo” por alguém é não responsabilizar-se pela
inocência alheia.
Uma
das justificações nos ordálios da Idade Média era a prova do
ferro caldo. Quem alegava inocência submetia-se a pegar numa
barra de ferro aquecida ao rubro e caminhar com ela na mão por
alguns metros. Envolvia-se a mão em estopa, selada com cera, e três
dias depois abria-se a atadura. Se a mão estivesse ilesa, sem sinal
de queimadura, era evidente e provada a inocência. Se tivesse
queimadura, provada estava a culpabilidade e era imediata a punição
pela forca.
Um
episódio tradicional em Portugal verificar-se-ia em Leça do Balio,
ao redor de 1324, com Marina, esposa de Estêvão Gontines, acusada
de adultério, levando o ferro caldo sem que a mão sofresse a
menor injúria. Motivou o romance de Arnaldo Gama (1828-1869), Balio
de Leça. A prova do ferro caldo ainda foi empregada em Portugal
ao correr do século XIV.
Um
índice da permanência dessa purgação no espírito do povo é a
frase, comuníssima no Brasil, em Portugal, Espanha e França: Não
boto ou boto a mão no fogo, referindo-se à inocência ou
culpa de alguém.
Luís
da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz
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