Quando
Lucia Peláez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços,
noite após noite, embaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o
romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros
preferidos.
Muito
caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. Na busca de fantasmas
caminhou pelos rochedos sobre o rio Antióquia, e na busca de gente
caminhou pelas ruas das cidades violentas.
Muito
caminhou Lucia, e ao longo de seu caminhar ia sempre acompanhada
pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus
olhos, na infância.
Lucia
não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro
cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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