terça-feira, 7 de novembro de 2017

Opinião e crença

Suficientemente repetida, a afirmação acaba por criar, primeiramente, uma opinião e, mais tarde, uma crença.
A repetição é o complemento necessário da afirmação. Repetir muitas vezes uma palavra, uma ideia, uma fórmula, é transformá-las fatalmente em crença. Do fundador da religião ao negociante, todos os homens que procuram persuadir a outros têm empregado esse processo.
O seu poder é tal que se acaba por crer nas próprias palavras assim repetidas e por aceitar as opiniões que habitualmente se exprime. Ao Senado que lhe pedia adotasse medidas destinadas à defesa da República, o grande Pompeu não cessava de repetir que César não atacaria Roma e, nota Montesquieu, “porque ele tantas vezes o tinha dito, ele dizia-o sempre”. A convicção formada no seu espírito por essas repetições impediu-o de recorrer aos meios que lhe teriam permitido proteger Roma e conservar a vida, ao menos durante algum tempo.
A história política está repleta de convicções formadas assim, pela repetição. Antes de 1870, os nossos generais e os nossos estadistas não cessavam de repetir que os exércitos alemães eram muito inferiores aos nossos. À força de repeti-lo, nisso firmemente acreditaram. Sabe-se o que nos custou essa convicção.
Tendo adotado opiniões simplesmente porque lhes são úteis, o político, à força de sustentá-las, acaba por nelas acreditar; e muito dificilmente se liberta delas, mesmo quando se torna vantajoso mudá-las. O hábito de louvar a virtude teria acabado, talvez, por tornar virtuoso o próprio Tartufo.
As convicções fortes podem, assim, provir de convicções fracas ou mesmo, simplesmente, simuladas. “Fazei tudo como se acreditásseis”, disse Pascal, “isso vos fará crer”.
Gustave Le Bon, in As opiniões e as crenças

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