Desde
quando é que se tornou digno de louvor o fato de alguém possuir uma
natureza de escravo? Depois de todos os símbolos do poder terem
desaparecido, já não tinhas qualquer razão para obedecer, mas
continuaste a fazê-lo. Que força misteriosa te impelia a obedecer
às ordens de pessoas tão desgraçadas como tu, tão nuas e
miseráveis como tu? Eras demasiado covarde para tentares fazer como
os outros, para experimentares dizer uma vez que fosse ao capitão:
vai buscar lenha, preciso de me aquecer à fogueira. Não, tinhas
descoberto uma outra solução; enquanto estavas ainda saciado,
calculavas friamente que chegaria a hora em que a tua fome seria
maior do que a dos outros todos. E então pensavas: em breve ficarei
faminto, tornar-me-ei selvagem e sem escrúpulos, revoltar-me-ei, não
abertamente, mas de modo dissimulado, contra estes terroristas. Com a
cabeça fria, fazias projetos sobre a maneira como utilizarias a tua
embriaguez, e é isso que é desprezível. Para que serve o desejo de
revolta se te recusas a revoltar-te quando estás saciado?
Stig
Dagerman, in A
ilha dos condenados
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