Eu
fui um menino por trás de uma vidraça — um menino de aquário.
Via
o mundo passar como numa tela cinematográfica, mas que repetia
sempre as mesmas cenas, as mesmas personagens.
Tudo
tão chato que o desenrolar da rua acabava me parecendo apenas em
preto e branco, como nos filmes daquele tempo.
O
colorido todo se refugiava, então, nas ilustrações dos meus livros
de histórias, com seus reis hieráticos e belos como os das cartas
de jogar.
E
suas filhas nas torres altas — inacessíveis princesas.
Com
seus cavalos — uns verdadeiros príncipes na elegância e na
riqueza dos jaezes.
Seus
bravos pajens (eu queria ser um deles...)
Porém,
sobrevivi...
E
aqui, do lado de fora, neste mundo em que vivo, como tudo é
diferente! Tudo, ó menino do aquário, é muito diferente do teu
sonho...
(Só
os cavalos conservam a natural nobreza.)
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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