Os
nunca assaz finados parnasianos tinham, antes de mais nada, a chave
de ouro. Como o resto do soneto era tapado como uma porta — por que
não mostravam apenas o raio da chave? Não estou brincando. Pois nos
meus tempos de ginasiano eu também fabriquei a minha chavezinha de
ouro:
“...
de uns verdes buritis a cismadora tribo”.
Confesso
que não consegui colocar nada antes deste verso. Hoje acho que não
seria preciso, que ali já estava todo um poema... Em todo caso, cedo
em cartório a chave aos últimos sonetistas alexandrinos, a quem
muito venero, pois no caos de hoje em dia eles têm consciência de
que, para fazer um poema, é preciso trabalhar como um escravo. Com a
única recompensa do trabalho feito. Vamos, minha gente? Faltam
apenas treze versos.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
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