Quando
o carro atravessou o bosque, ele fê-lo parar perto de um tiro,
dizendo que lhe seria agradável atirar algumas balas para matar o
tempo. Matar esse monstro, não será a ocupação mais comum e mais
legítima de cada um? Ofereceu galantemente a mão à companheira,
deliciosa e execrável mulher, essa mulher misteriosa a quem ele deve
tantos prazeres, tantos sofrimentos e talvez mesmo uma grande parte
do seu gênio.
Várias
balas passaram longe do ponto visado, indo uma alojar-se no teto. A
encantadora criatura ria-se perdidamente, zombando da inabilidade do
esposo. Então, este voltou-se bruscamente para ela e lhe disse: —
Olhe para aquela boneca, lá longe, à direita, com o nariz para cima
e um ar tão insolente. Pois bem, querida, imagine que é você! E,
fechando os olhos, deu no gatilho. A boneca foi lindamente
decapitada.
Depois,
inclinando-se para a companheira, sua deliciosa e execrável mulher,
sua Musa impiedosa e inevitável, beijou-lhe respeitosamente a mão e
acrescentou: — Ah! Anjo querido! Como lhe agradeço minha
habilidade!
Charles
Baudelaire, in Pequenos poemas em prosa
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