Sem
cavalos hoje. Me sinto estranhamente normal. Entendo por que
Hemingway precisava das touradas, elas o situavam, lembravam-no de
onde era e o que era. Às vezes nos esquecemos, pagando contas de
gasolina, trocando o óleo etc. A maioria das pessoas não está
pronta para a morte, a sua ou a dos outros. Ela as choca, as apavora.
É como uma grande surpresa. Diabos, não deveria ser nunca. Levo a
morte em meu bolso esquerdo. Às vezes, tiro-a do bolso e falo com
ela: “Oi, gata, como vai? Quando virá me buscar? Vou estar
pronto”.
Não
há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a
lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é
a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua
morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em suas vidas. As
pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais em foder,
cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de
algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar.
Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus
cérebros estão entupidos de algodão. São feios, falam feio,
caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e
elas não conseguem ouvi-la. A maioria das mortes das pessoas é uma
empulhação. Não sobra nada para morrer.
Veja,
preciso dos cavalos, perco meu senso de humor. Uma coisa que a morte
não suporta é que você ria dela. O verdadeiro riso ganha a maior
das apostas. Não rio há três ou quatro semanas. Alguma coisa está
me comendo vivo. Me coço, me viro, olho em volta, tentando
encontrá-la. O Caçador é esperto. Não consigo vê-lo. Ou vê-la.
Este
computador deve voltar para a loja. Não vou abençoá-los com os
detalhes. Algum dia, vou saber mais sobre os computadores do que os
próprios computadores. Mas, nesse momento, esta máquina está me
vencendo.
Tem
dois editores que conheço que ficam ofendidos com os computadores.
Tenho essas duas cartas e elas são furiosas contra os computadores.
Fiquei surpreso com a amargura nas cartas. E com a criancice. Sei que
o computador não pode escrever por mim. Se pudesse, eu não ia
querer. As cartas eram longas demais. Inferiam que o computador não
faz bem à alma. Bom, poucas coisas fazem. Mas sou a favor da
conveniência, se posso escrever o dobro e a qualidade permanece a
mesma, então prefiro o computador. Escrever é quando voo, escrever
é quando começo incêndios. Escrever é quando tiro a morte do meu
bolso esquerdo, atiro-a contra a parede e a pego de volta quando
rebate.
Esses
caras acham que você tem que estar crucificado e sangrando para ter
alma. Querem que você esteja meio louco, babando na camisa. Já
estou cheio da cruz, meu tanque está cheio disso. Se puder ficar
fora da cruz, ainda terei bastante combustível. Demais. Deixe que
eles subam na cruz, eu os congratulo. Mas a dor não cria a obra, um
escritor, sim.
De
qualquer forma, de volta à loja com isto e quando esses dois
editores virem meu trabalho batido à máquina de novo vão pensar,
ah, o Bukowski está com sua alma de volta. É muito melhor ler esse
negócio.
Ah,
bem, o que faríamos sem os editores? Ou melhor ainda, o que eles
fariam sem nós?
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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