“É
espantoso quão fácil e rapidamente a homogeneidade ou a
heterogeneidade de espírito e de ânimo entre os homens se faz
manifesta na conversação: ela torna-se sensível à menor situação.
Entre duas pessoas de natureza substancialmente heterogênea, que
conversam sobre os assuntos mais estranhos e indiferentes, cada frase
de uma desagradará mais ou menos à outra, em muitos casos irritará.
Naturezas homogêneas, pelo contrário, sentem de imediato, em tudo,
uma certa concordância, que, tratando-se de grande homogeneidade,
logo converge para a harmonia perfeita, para o uníssono.
A
partir disso, explica-se, em primeiro lugar, porque os tipos
ordinários são tão sociáveis e em qualquer lugar encontram boa
companhia com tanta facilidade - gente estimada, amável e honesta.
Com os indivíduos incomuns acontece o contrário, e tanto mais
quanto mais distintos forem, de tal maneira que, de tempos em tempos,
no seu isolamento, podem alegrar-se por terem descoberto em alguém,
uma fibra, por menor que seja, homogênea à sua! De facto, cada um
só pode ser para outrem o que este é para ele. Espíritos
verdadeiramente eminentes fazem o seu ninho nas alturas, como as
águias, solitários. Em segundo lugar, isso explica por que os
indivíduos de disposição igual se reúnem de imediato, como por
atração magnética: é que almas afins já de longe se saúdam.
Decerto, teremos oportunidade de observar isso com mais frequência
nas pessoas mal intencionadas ou pouco inteligentes; mas apenas
porque estas existem em legiões, enquanto as melhores e excelsas são
e intitulam-se naturezas raras.”
Arthur
Schopenhauer, in
Aforismos para a sabedoria de vida
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