Em
Potosí, em 1825, Bolívar sobe ao topo do morro de prata. Fala
Bolívar, falará a História: Esta montanha cujo seio é o
assombro e a inveja do Universo... Ao vento as bandeiras das
novas pátrias e os sinos de todas as igrejas. Eu estimo em nada
esta opulência quando a comparo... Mil léguas abraçam os
braços de Bolívar. Os vales multiplicam as salvas dos canhões e o
eco das palavras: ...com a glória de ter trazido vitorioso o
estandarte da liberdade lá das ardentes e distantes praias...
Falará a História do prócer na altura. Nada dirá das mil rugas na
cara desse homem, ainda não usada pelos anos mas talhada fundo pelos
amores e pelas dores. A História não se ocupará dos potros que
galopam em seu peito enquanto abraça a terra como se fosse mulher,
lá dos céus de Potosí. A terra como se fosse essa mulher: a que
afia as espadas dele, e com um só olhar o despe e perdoa. A que sabe
escutá-lo por baixo do trovão dos canhões e os discursos e as
ovações, quando ele anuncia: Tu estarás sozinha, Manuela. E eu
estarei sozinho no meio do mundo. Não haverá outro consolo além da
glória de termos vencido.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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