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Me disseram...
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Disseram-me.
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Hein?
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O correto é
“disseram-me”. Não “me disseram”.
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Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
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O quê?
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Digo-te que você...
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O “te” e o “você” não combinam.
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Lhe digo?
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Também não. O que você ia me dizer?
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Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te
partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se
diz?
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Partir-te a cara.
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Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou
corrigir-me.
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É para o seu bem.
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Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem
entender. Mais uma correção e eu...
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O quê?
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O mato.
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Que mato?
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Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
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Pois esqueça-o e pára-te.
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Pronome no lugar certo é
elitismo!
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Se você prefere falar errado...
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Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou
entenderem-me?
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No caso... não sei.
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Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
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Esquece.
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Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é
“esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me,
vamos.
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Depende.
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Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses,
mas não sabes-o.
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Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
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Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não
posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
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Por que?
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Porque, com todo este papo, esqueci-lo.
Luís
Fernando Veríssimo,
in Comédias
para se ler na escola
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