Viver
com menos não significa abdicar das coisas que se gosta, significa
reavaliar a real necessidade de consumo.
A
proposta de viver com menos é, muitas vezes, mal compreendida,
causando um certo repúdio imediato, consequente da imagem de uma
vida de privações. Às vezes, pode parecer discurso de desdém
daqueles que não podem consumir, ao mesmo tempo em que causa
arrepios aos consumistas de plantão.
Porém
uma vida minimalista é uma escolha, e não um estado de conformismo.
E viver com menos não significa se privar das coisas que gosta. Nem
mesmo o tão aclamado “desapego” significa abrir mão do que lhe
é bom e útil, mas sim daquilo que está guardado, ocupando espaço,
ficando obsoleto, e que poderia ser útil a outras pessoas. Desapego
é compreender que há mais na vida para ser vivido do que para ser
acumulado, sem deixar de reconhecer que muitas coisas possam nos ser
úteis para uma vida melhor.
Da
mesma forma que ter uma “vida melhor” tem significados diferentes
para pessoas diferentes, as necessidades de cada um também são
variadas. Obviamente temos necessidades básicas e comuns a todos,
que necessitam ser supridas para garantir a sobrevivência, são
questões fisiológicas, como alimentação, questões de segurança
e relacionamentos. Porém, após satisfeitas as necessidades básicas,
cada um tem, em seu contexto de vida, necessidades específicas.
Considerando
essas variáveis, algumas pessoas podem viver o minimalismo com, por
exemplo, poucas peças de roupa, com corte fino e excelente
qualidade; outros encontrarão no minimalismo uma justificativa para
não gastar valores altos em cada peça, uma vez que seu estilo de
vida exige roupas variadas. Portanto, não cabe julgamento, nem é
possível estabelecer uma fórmula para o que é viver com menos.
O
importante é revalorizar o próprio dinheiro, o valor do seu esforço
e tempo de trabalho. É compreender em quais momentos consumimos sem
necessidade, por impulso, ou porque está na moda. É rever os
armários cheios e criar espaço, organizando, doando o que não
precisa mais.
Ao
longo do processo, fica claro que as mudanças externas são apenas
reflexo da transformação interior, em que consumir deixa de ser um
prazer e torna-se apenas uma ferramenta. O espaço interno é a
liberdade, de não ter e não sentir que precisa, de passar por lojas
e não consumir por impulso, de abrir os armários e se deparar
apenas com coisas que são úteis.
Quem
consegue se livrar dos excessos fica com a bagagem mais leve para a
viagem da vida. Menos coisa para administrar pode significar mais
tempo de lazer e convívio real com as pessoas. Não sentir-se
obrigado a ter, a acompanhar lançamentos e tendências, proporciona
liberdade e leveza. Uma vida minimalista é um processo que não deve
impor sofrimento ou escassez. As coisas desnecessárias vão se
mostrando aos poucos, até alcançar o dia em que tudo o que se tem,
será apenas o necessário, ao qual provavelmente pagou um preço
compatível.
Ter
e manter as coisas, inclusive coisas sem uso, consome tempo. Com
menos tempo gasto administrando essas coisas, haverá mais tempo para
viver. Desapegar das coisas que aprisionam permitirá um melhor
relacionamento com as coisas úteis, que facilitam a vida, promovem
conforto e permitem momento reais de prazer. Minimalismo é
compreender que as coisas são apenas coisas, e servem para melhorar
nossas vidas, não para nos tornar prisioneiros.
Priscila
Fernandes, in www.obviousmag.org
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