Redisse
a Diadorim o que eu tinha surripiado: que o projeto de Medeiro Vaz só
era o de conduzir a gente para o Liso do Sussuarão ― a dentro,
adiante, até ao fim. ― E certo é. E certo ― Diadorim respondeu,
me afrontando com a surpresa de que ele já sabia daquilo e a mim não
tinha antecipado nem miúda palavra. E veja! eu vinha tanto tempo me
relutando, contra o querer gostar de Diadorim mais do que, a claro,
de um amigo se pertence gostar; e, agora aquela hora, eu não apurava
vergonha de se me entender um ciúme amargoso. Sendo sabendo que
Medeiro Vaz depunha em Diadorim uma confiança muito maior do que em
nós outros todos, de formas que com ele externava os assuntos. Essa
diferença de regra agora me turvava? Mas Medeiro Vaz era homem de
outras idades, andava por este mundo com mão leal, não variava
nunca, não fraquejava. Eu sabia que ele, a bem dizer, só guardava
memória de um amigo! Joca Ramiro. Joca Ramiro tinha sido a admiração
grave da vida dele! Deus no Céu e Joca Ramiro na outra banda do Rio.
Tudo o justo. Mas ciúme é mais custoso de se sopitar do que o amor.
Coração da gente ― o escuro, escuros.
Guimarães
Rosa, in Grande sertão: veredas
Nenhum comentário:
Postar um comentário