“Talvez
fosse melhor não falar dos teólogos, tão delicada é essa matéria
e tão grande é o perigo de tocar em semelhante corda. Esses
intérpretes das coisas divinas estão sempre prontos a acender-se
como a pólvora, têm um olhar terrivelmente severo e, numa palavra,
são inimigos muito perigosos. Se acasos incorreis na sua indignação,
lançam-se contra vós como ursos furibundos, mordem-vos e não vos
largam senão depois de vos terem obrigado a fazer a vossa palinódia
com uma série infinita de conclusões; mas, se recusais
retratar-vos, condenam-vos logo como hereges. E, mostrando essa
cólera, chamando de herege, de ateu, conseguem fazer tremer os que
não concordam com eles. Embora não haja ninguém que, tanto como
eles, dissimule os meus favores, não é menos verdadeiro que me
devem muito. Eis porque impus ao meu amor-próprio favorecê-los mais
do que a todos os outros mortais, e de fato são eles os meus maiores
prediletos.”
Erasmo
de Roterdan, in
Elogio
da
loucura
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