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Penso
que um crítico de arte, ao se pronunciar sobre uma tela, uma música,
um livro, uma escultura, deveria ter o cuidado de não dizer: “Essa
obra é medíocre”, “Essa obra é genial”. Ao escrever assim,
ele está fazendo uma afirmação sobre a verdade daquela obra. Mas o
fato é que ele não sabe a verdade de coisa alguma. Muitas obras de
arte hoje consideradas geniais foram ridicularizadas pelos críticos
da moda. Segundo Karl Popper, nem mesmo a ciência sabe a verdade. A
ciência só dá “palpites provisórios”, que são constantemente
modificados. É preciso que os críticos se reconheçam como
“palpiteiros”. Um crítico dá os seus palpites, opiniões,
impressões, sentimentos acerca da obra sobre a qual escreve. Assim,
um crítico cuidadoso e ético deveria dizer: “Penso que essa obra
é medíocre”, “Penso que essa obra é genial”. Porque assim
ele estará honestamente comunicando os seus pensamentos sobre a obra
e não a verdade sobre a dita obra. A sua crítica é apenas um
pedaço dele mesmo, a “sua” obra de arte, as suas reações
subjetivas à obra. Muitas obras que foram sentenciadas como
medíocres por críticos do momento foram consideradas geniais
posteriormente. Nos Primeiros cadernos, de Albert Camus
(Lisboa, Livros do Brasil, p. 213), encontra-se o seguinte fragmento
de uma carta que o escritor escreveu ao crítico literário A. R.:
“Três anos para escrever um livro, cinco linhas para o
ridicularizar – e citações falsas”. Albert Camus recebeu o
Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1957. A história provou que
medíocre era o crítico.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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