sábado, 7 de maio de 2016

Críticos

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Penso que um crítico de arte, ao se pronunciar sobre uma tela, uma música, um livro, uma escultura, deveria ter o cuidado de não dizer: “Essa obra é medíocre”, “Essa obra é genial”. Ao escrever assim, ele está fazendo uma afirmação sobre a verdade daquela obra. Mas o fato é que ele não sabe a verdade de coisa alguma. Muitas obras de arte hoje consideradas geniais foram ridicularizadas pelos críticos da moda. Segundo Karl Popper, nem mesmo a ciência sabe a verdade. A ciência só dá “palpites provisórios”, que são constantemente modificados. É preciso que os críticos se reconheçam como “palpiteiros”. Um crítico dá os seus palpites, opiniões, impressões, sentimentos acerca da obra sobre a qual escreve. Assim, um crítico cuidadoso e ético deveria dizer: “Penso que essa obra é medíocre”, “Penso que essa obra é genial”. Porque assim ele estará honestamente comunicando os seus pensamentos sobre a obra e não a verdade sobre a dita obra. A sua crítica é apenas um pedaço dele mesmo, a “sua” obra de arte, as suas reações subjetivas à obra. Muitas obras que foram sentenciadas como medíocres por críticos do momento foram consideradas geniais posteriormente. Nos Primeiros cadernos, de Albert Camus (Lisboa, Livros do Brasil, p. 213), encontra-se o seguinte fragmento de uma carta que o escritor escreveu ao crítico literário A. R.: “Três anos para escrever um livro, cinco linhas para o ridicularizar – e citações falsas”. Albert Camus recebeu o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1957. A história provou que medíocre era o crítico.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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