domingo, 8 de maio de 2016

120 reais

Entro no caixa do Bradesco. Saco 120 reais de direitos autorais da quinzena e atravesso a rua. Um conhecido que escreve mal pra caralho me abraça e abre um sorriso mais falso que quadro de Monet vendido na 25 de março. Peço uma Skol Beats e uma carteira de Derby. O conhecido me acompanha e pede pra dona do bar colocar MPB. Começa a tocar Djavan, Fagner, Hyldon, Caetano, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto e Maria Gadú. Abre a carteira mostrando uma fileira gorda de notas de cem. Não falo uma palavra. Ando querendo fazer greve de silêncio faz tempo. Bebo mais, o dinheiro vai acabando e o conhecido não para de fazer perguntas: “e aí, sucesso em Portugal, hein? Comendo um monte de mulher. Saindo em tudo que é jornal. Estadão, O Globo, Obvious, Observatório da imprensa, Revista Pessoa, Homo Literatus e o escambau. Tá com os caralhos, Diegão”. Continuo puto. Dar moral pra invejoso é pior que alimentar amor por putas. Puxo os últimos 10 contos do bolso e faço sinal pra dona trazer a última long neck enquanto Chico Buarque choraminga na máquina jukebox. Acendo um cigarro e mando essa: “tá sabendo, não?” “o quê?” “Chico Buarque vai gravar um disco só com os meus poemas”. O invejosão dá um grito e pede pra dona do bar descer uma grade de cerveja: “Hoje vou pagar todas! Você merece, cara! É nosso orgulho! O poeta mais foda do amazonas!” vou ficando embriagado e escuto ele pedindo pra me indicar pra fulano, beltrano e sicrano. Que também tem um livro e quer publicar. Vomito no pé dele e arremato pra acabar com a festa: “foda-se Chico Buarque e a tua literatura ruim pra caralho”.
Diego Moraes, in ursoconelado.tumblr.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário