Entro
no caixa do Bradesco. Saco 120 reais de direitos autorais da quinzena
e atravesso a rua. Um conhecido que escreve mal pra caralho me abraça
e abre um sorriso mais falso que quadro de Monet vendido na 25 de
março. Peço uma Skol Beats e uma carteira de Derby. O conhecido me
acompanha e pede pra dona do bar colocar MPB. Começa a tocar Djavan,
Fagner, Hyldon, Caetano, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto e Maria
Gadú. Abre a carteira mostrando uma fileira gorda de notas de cem.
Não falo uma palavra. Ando querendo fazer greve de silêncio faz
tempo. Bebo mais, o dinheiro vai acabando e o conhecido não para de
fazer perguntas: “e aí, sucesso em Portugal, hein? Comendo um
monte de mulher. Saindo em tudo que é jornal. Estadão, O Globo,
Obvious, Observatório da imprensa, Revista Pessoa, Homo Literatus e
o escambau. Tá com os caralhos, Diegão”. Continuo puto. Dar moral
pra invejoso é pior que alimentar amor por putas. Puxo os últimos
10 contos do bolso e faço sinal pra dona trazer a última long neck
enquanto Chico Buarque choraminga na máquina jukebox. Acendo um
cigarro e mando essa: “tá sabendo, não?” “o quê?” “Chico
Buarque vai gravar um disco só com os meus poemas”. O invejosão
dá um grito e pede pra dona do bar descer uma grade de cerveja:
“Hoje vou pagar todas! Você merece, cara! É nosso orgulho! O
poeta mais foda do amazonas!” vou ficando embriagado e escuto ele
pedindo pra me indicar pra fulano, beltrano e sicrano. Que também
tem um livro e quer publicar. Vomito no pé dele e arremato pra
acabar com a festa: “foda-se Chico Buarque e a tua literatura ruim
pra caralho”.
Diego
Moraes, in ursoconelado.tumblr.com
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