segunda-feira, 14 de março de 2016

Problema

Depois de construir a fama de recluso e avesso a exposições, por volta dos 70 ele [Quintana] se deixou descobrir explicitamente. Virou atração turística, como avalia o jornalista Ivo Stigger. “Sou a falta de assunto predileta das professoras de Português da Grande Porto Alegre”, divertia-se. Quando não podia fugir, desaparecendo nos corredores do prédio da Caldas Júnior ou enfiando-se num cinema, aceitava o sacrifício estoicamente.
Naquela tarde, um bando de normalistas do Instituto de Educação (ainda usavam o uniforme tradicional, saia plissada azul-marinho, blusa listrada em vermelho e branco, gravatinha) invadiu a redação e foi direto à mesa do poeta, tema involuntário de um trabalho em grupo.
Apegando-se ao fato de que ele sempre vivera sozinho, uma magrelinha loira faz a primeira pergunta:
O senhor poderia falar sobre o problema da solidão?
Ele, dirigindo-se ao grupo:
O maior problema da solidão, minhas filhas, é preservá-la.
Juarez Fonseca, in Ora bolas – O humor de Mario Quintana

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