“Pensando
em Zola ficamos sem saber o que dizer diante da sua obra, que está
ainda perto demais de nós e fala de coisas que nos são
excessivamente familiares… São metais em tortura, ameaças
colossais, catástrofes anunciadas. Seria bom que tivessem mudado um
pouco. A vida moderna começava.
E
desde então ela não melhorou, as coisas permaneceram as mesmas, com
apenas algumas variantes. Precisou Zola já de certo heroísmo para
mostrar às pessoas do seu tempo alguns quadros da realidade. A de
hoje ninguém poderia. Aqui estamos depois de vinte séculos de alta
civilização e, no entanto, regime nenhum – marxista, burguês ou
fascista – resistiria a dois meses de verdade. Pois o homem não
subsiste em nenhuma das formas sociais, todas masoquistas, sem a
violência da mentira permanente e maciça, freneticamente repetida,
“totalitária”, como se diz. Hitler não é o suprassumo disso,
veremos outros ainda mais epiléticos. O sadismo unânime vem de um
desejo profundamente arraigado no Homem, uma espécie de impaciência
irresistível pela morte. A novidade da fé científica deu a Zola e
aos escritores do seu tempo certa fé social… ele acreditava na
virtude, queria assustar, mas não desesperar, mas aprendemos, sobre
a alma, desde que ele se foi, um bocado de coisa.
Seguindo
certa tradição, eu deveria terminar essa pequena homenagem num tom
de boa vontade, de otimismo a todo custo… O que devemos então
esperar do naturalismo nas condições em que nos encontramos? Tudo e
Nada. Pesando mais para o Nada, pois os conflitos espirituais irritam
muito a massa humana de hoje. A Dúvida está em vias de extinção
em nosso mundo. Matam-na matando os homens que têm dúvida. É mais
garantido assim.
Desde
Zola, o pesadelo em que vivia o homem não só ganhou precisão, mas
também se tornou oficial. À medida que os nossos “Deuses”
ficaram mais poderosos, se tornaram também mais ferozes, mais
despeitados e mais imbecis… Eles se organizam. O que dizer a eles?
Não há mais compreensão possível… A escola naturalista terá
cumprido o seu dever no momento em que for proibida em todos os
países do mundo.”
Louis-Ferdinand
Céline, em um discurso em Médan, em 1933
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