domingo, 8 de novembro de 2015

O homem não subsiste em nenhuma das formas sociais

Pensando em Zola ficamos sem saber o que dizer diante da sua obra, que está ainda perto demais de nós e fala de coisas que nos são excessivamente familiares… São metais em tortura, ameaças colossais, catástrofes anunciadas. Seria bom que tivessem mudado um pouco. A vida moderna começava.
E desde então ela não melhorou, as coisas permaneceram as mesmas, com apenas algumas variantes. Precisou Zola já de certo heroísmo para mostrar às pessoas do seu tempo alguns quadros da realidade. A de hoje ninguém poderia. Aqui estamos depois de vinte séculos de alta civilização e, no entanto, regime nenhum – marxista, burguês ou fascista – resistiria a dois meses de verdade. Pois o homem não subsiste em nenhuma das formas sociais, todas masoquistas, sem a violência da mentira permanente e maciça, freneticamente repetida, “totalitária”, como se diz. Hitler não é o suprassumo disso, veremos outros ainda mais epiléticos. O sadismo unânime vem de um desejo profundamente arraigado no Homem, uma espécie de impaciência irresistível pela morte. A novidade da fé científica deu a Zola e aos escritores do seu tempo certa fé social… ele acreditava na virtude, queria assustar, mas não desesperar, mas aprendemos, sobre a alma, desde que ele se foi, um bocado de coisa.
Seguindo certa tradição, eu deveria terminar essa pequena homenagem num tom de boa vontade, de otimismo a todo custo… O que devemos então esperar do naturalismo nas condições em que nos encontramos? Tudo e Nada. Pesando mais para o Nada, pois os conflitos espirituais irritam muito a massa humana de hoje. A Dúvida está em vias de extinção em nosso mundo. Matam-na matando os homens que têm dúvida. É mais garantido assim.
Desde Zola, o pesadelo em que vivia o homem não só ganhou precisão, mas também se tornou oficial. À medida que os nossos “Deuses” ficaram mais poderosos, se tornaram também mais ferozes, mais despeitados e mais imbecis… Eles se organizam. O que dizer a eles? Não há mais compreensão possível… A escola naturalista terá cumprido o seu dever no momento em que for proibida em todos os países do mundo.”
Louis-Ferdinand Céline, em um discurso em Médan, em 1933

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