sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Paixões e erros dos legisladores

Aquele que ler sob uma ótica filosófica os códigos das nações e os seus anais, verá quase sempre as palavras vício e virtude, bom cidadão ou réu mudar com as revoluções dos séculos, não em razão das mutações ocorridas nas circunstâncias dos países, e, por isso, sempre conformes ao interesse comum, mas em razão das paixões e dos erros que agitaram sucessivamente os diversos legisladores. Verá frequentemente que as paixões de um século são a base moral dos séculos futuros; que as paixões fortes, filhas do fanatismo e do entusiasmo, enfraquecidas e corroídas, diria eu, pelo tempo, que reduz ao equilíbrio todos os fenômenos físicos e morais, tornam-se pouco a pouco prudência do século e um instrumento útil nas mãos dos fortes e dos sagazes. Desse modo, nasceram as obscuras noções de honra e de virtude, e tais são elas porque mudam com as revoluções do tempo, que faz sobreviver os nomes às coisas, mudam com os rios e com as montanhas, que marcam frequentemente os limites não só da geografia física, mas também da geografia moral.”

Cesare Beccaria, in Dos delitos e das penas

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