Sem
saber, Sixto Rodriguez foi uma lenda da música durante e depois do
"apartheid", na África do Sul. Ele compôs a trilha sonora
que incentivou a revolta popular contra o regime opressor da época.
Tornou-se um ídolo nacional, comparável a Elvis Presley em termos
de popularidade e a Bob Dylan quanto ao seu talento para compor
letras impactantes e inesquecíveis. Em 2012, um documentário
retratou como tudo começou e como ele alcançou o merecido
reconhecimento.
Capa do Álbum Coming from reality, de 1971
Demorou.
Mas, finalmente, o superpremiado documentário “Searching For Sugar
Man” (2012) foi lançado no Brasil, em DVD, narrando uma das
histórias mais espetaculares do mundo da música.
Nascido
no México, Sixto Rodriguez cresceu em Detroit, Estados Unidos, onde
seu pai encontraria trabalho mais facilmente, em montadoras de
automóveis. No começo da década de 1970, os bares de uma
determinada região da cidade costumavam ter músicos se apresentando
em meio a muita fumaça e pouca luz. Ao final de cada música,
ouviam-se poucos aplausos, sem muito entusiasmo.
Apesar
disso, esses bares eram uma ótima fonte para os “caçadores” de
talentos das gravadoras. Durante uma dessas “caçadas”, Sixto
Rodriguez foi descoberto e logo gravou dois discos: “Cold Fact”
(1970) e “Coming From Reality” (1971).
Esses
discos nunca foram comercializados nos Estados Unidos, por decisão
das gravadoras. Consequentemente, suas músicas não tocavam nas
rádios. Assim, Sixto Rodriguez nunca foi conhecido em seu país,
exceto em algumas construções, já que, sem decolar na carreira
musical, tornou-se pedreiro – e dos bons.
Na
mesma época, acontecia o ápice do “apartheid”, na África do
Sul.
O
que tem a ver uma coisa com a outra? Simplesmente, tudo.
De
algum modo até hoje misterioso, os discos de Sixto Rodriguez
chegaram na África do Sul naquela mesma época e foram se
multiplicando em cópias “piratas” por todo o país.
Em
pouco tempo, Rodriguez não era somente conhecido em toda a África
do Sul, mas um ídolo nacional, do mesmo nível de Elvis Presley,
Beatles, Rolling Stones...
Rodriguez
foi uma referência, um ídolo, da maioria dos sul-africanos, senão
de todos. E em seu país, os Estados Unidos, e no resto do mundo? Um
desconhecido.
Assim
como aconteceu no Brasil nos árduos tempos da ditadura militar,
alguns artistas usaram a música para expressar sua opinião sobre a
realidade nacional, burlando, com extrema habilidade e talento, a
censura que imperava na época.
A
diferença, no caso de Rodriguez e da África do Sul, é que tudo
aconteceu por mero acaso.
As
músicas de Rodriguez não foram compostas para protestar contra
algum regime ditatorial, contra um sistema injusto, opressor e cruel,
mas se encaixavam perfeitamente na realidade enfrentada pelos
sul-africanos, em decorrência do “apartheid”.
Sabe-se
que foi um regime extremamente conservador e opressor. A população
não tinha acesso a informações claras sobre as questões políticas
locais, tampouco sabia como essa realidade era analisada fora do país
(se soubesse, a revolta ganharia força).
Em
contrapartida, em suas músicas, Rodriguez falava de liberdade, sexo,
drogas... produtores o comparavam a Bob Dylan por suas composições.
Quis o destino que seus discos encontrassem uma população sedenta
por revolução, por mudança de rumo em suas vidas.
A
filosofia revolucionária de Rodriguez, que encantou os sul-africanos
naquele momento, está escancarada em “I Wonder”, com referências
diretas a liberdade e sexo; em “Sugar Man”, falando abertamente
de drogas; e em “Establishment Blues”, um franco incentivo à
revolução.
Veja
a matéria completa da Obvious aqui.
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