“Isto
assim é simples e cômodo: tão simples, que a satisfação que o
trabalho proporciona desaparece, tão eficiente, que a sensação de
deslumbramento desaparece também dos campos, daí resultando que se
esquece a profunda compreensão que o homem possui da terra bem como
a sua ligação com ela. E no motorista do trator cresce, vai
aumentando o desprezo, que só domina um estranho, que não tem amor,
nem sente a sua comunhão com a terra. E que a terra não é só o
nitrato nem só fosfato, nem mesmo o tamanho que atinge a fibra do
algodão. O homem não é somente carvão, sal, água ou cálcio. É
tudo isto e também muitíssimo mais que o simples resultado da sua
análise.
O
homem, que é mais do que a sua composição química, caminhando na
terra, desviando o arado de uma pedra, abaixando a rabiça do arado
no intuito de poupar um rebento temporão, vergando os joelhos na
terra para comer sua singela refeição – esse homem, que é mais
que os elementos que o compõem, sabe também que a terra é mais que
o simples resultado da sua análise química. Mas o homem da máquina,
fazendo rodar um trator morto através das terras que não ama e nem
conhece, apenas entende de química; desdenha da terra e desdenha de
si próprio. Quando as portas de chapa ondulada se fecham, vai para
casa e a sua casa nada tem que ver com a terra.”
John
Steinbeck, in As vinhas da ira
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