Natal
é a terra que não consagra e nem desconsagra ninguém. Foi Câmara
Cascudo que disse isso, certo? Pois parece que as coisas andam
querendo mudar. Querendo porque consagração, como sucesso, é muito
relativo. O que é o sucesso para a Jubarte Ataca e para o Far From
Alaska?
Desde
o fim dos anos 60 e começo dos anos 70 Natal produz boas bandas e
artistas. Modus Vivendi, Cabeças Errantes, Leno, Impacto Cinco,
Deadly Fate, General Junkie, Florbela Espanca, Bugs, The Automatics,
Peixe Coco, Os Bonnies, Jane Fonda, Camarones Orquestra
Guitarrística, DeadFunnyDays, Far From Alaska, Jubarte Ataca (que
apesar de ser de Mossoró, todos os integrantes moram em Natal),
Kataphero, Orchestre Noire, Tesla Orquestra, Igapó de Almas, Clara e
A Noite, Talma & Gadelha, Son Of A Witch, Orquestra Boca Seca,
DuSouto, Mahmed… São muitas, muitas mesmo.
O
Impacto Cinco, com Leno (da dupla Leno e Lilian) já como produtor,
foi a primeira banda natalense a conseguir projeção por uma grande
gravadora. De lá para cá, o que se conhecia como indústria
fonográfica não existe mais. Em entrevista ao documentário
“Independência na Terrra do Sol” Paulo Souto (DuSouto, General
Junkie) afirmou que para gravar um disco antigamente era necessário
ter o dinheiro de um carro e que os estúdios preparados para gravar
forró ignoravam o que era o rock e pop local.
As
mudanças na indústria musical e tecnológica fizeram com que o
“faça você mesmo” se tornasse a prática da maioria da música
produzida no país. O que chega atualmente as rádios e televisões
do país não representam as produções locais, regionais ou
nacional. A tecnologia trouxe mais informação e quem antes era
dependente se tornou dono das ferramentas. Trouxeram novas formas de
produzir, de gravar, de circular as produções sem precisar de
deslocar para fora de Natal. Claro que tocar é primordial para
qualquer músico, mas escoar a produção também é imprescindível
para formar público.
Nos
dias atuais Natal exporta (a palavra talvez seja forte demais para
alguns) bandas para todo o país e até para fora. As fronteiras são
quebradas a cada dia e se a época do circuito de festivais e dos
coletivos passou, a força do “faça você mesmo” nunca vai
deixar de existir. Sendo assim, atualmente a cidade atende por bandas
tão distintas como Plutão Já Foi Planeta (pop) e Deuszebul
(grindcore) com a mesma importância, cada uma dentro de seu nicho, é
claro. O mais interessante é que há consumo para todos. É possível
na mesma noite ver lado a lado (é raro, mas acontece) reggae, samba
e rock psicodélico, duelando na Rua Chile e levando bom público a
todos os eventos. Tudo graças a tecnologia que permite produzir e
difundir aliadas a força de vontade de fazer acontecer na hora que
sair do virtual.
O
que antes só era possível com o dinheiro de um carro, hoje é
possível com um bom computador em casa, criatividade e paciência.
Dessa forma nossos artistas e bandas vêm produzindo e lançando um
disco atrás do outro e chegando cada vez mais longe. Se alguém vai
ser consagrado ou não, o tempo dirá. Mas a satisfação é de cada
um. Ter um disco lançado, tocar para os amigos ou para um grande
público em um festival é de cada um o que é sucesso e
reconhecimento.
Natal
hoje é um pólo de produção musical como nunca foi.
Hugo
Morais, in www.somsemplugs.com.br
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