domingo, 15 de março de 2015

Falta de força vital

Konstantin Liévin encarava o irmão como um homem de enorme inteligência e cultura, um homem nobre, no sentido mais elevado da palavra, e dotado da capacidade de agir em prol do bem comum. No entanto, no fundo de sua alma, quanto mais envelhecia e quanto mais intimamente conhecia o irmão, vinha-lhe ao pensamento, de modo cada vez mais frequente, que essa capacidade de agir em prol do bem comum, da qual se sentia completamente privado, talvez não fosse uma virtude, mas sim, ao contrário, a falta de alguma coisa – não uma falta de gostos e de desejos bons, honrados e nobres, mas uma falta de força vital, daquilo que chamam de coração, daquela aspiração que obriga a pessoa a escolher, entre todos os inumeráveis caminhos que se apresentam na vida, somente um e desejar apenas esse. Quanto mais conhecia o irmão, mais notava que Serguei Ivánovitch e muitos outros que agiam em prol do bem comum não eram levados pelo coração a esse amor ao bem comum, mas sim concluíam por força da razão que era bom incumbir-se disso e apenas por esse motivo o faziam.”
Leon Tolstoi, in Anna Karenina

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