Primeiro,
não se acredita. Eusébio morto? Como é que pode ser? Depois acredita-se e
amaldiçoa-se o azar de Eusébio e da família dele por ele ter morrido tão cedo.
Percebe-se
que Eusébio já era um imortal há muito tempo e que, nesse sentido heroico,
continua tão vivo como antes. Foi uma imortalidade que ele criou, jogada a
jogada, de jogo em jogo, ano após ano, de golo em golo.
Mas
Eusébio faz falta. Ele era um sábio e um benfeitor, um monumento vivo que
falava com as pessoas e vivia como elas, no meio da gente. Era a última grande
figura de Lisboa.
Os
portugueses nem sempre trataram Eusébio com o respeito e a gratidão que ele não
só merecia como tinha conquistado, apesar de ter enfrentado obstáculos
formidáveis.
Eusébio
era um senhor a jogar e era um senhor na vida. As grandes qualidades dele como
futebolista - a inteligência, a imaginação, a solidariedade, a elegância e a
audácia - nunca mais se juntaram num só jogador. Mas continuaram sempre na
pessoa de Eusébio, ao lado de fraquezas que todos nós temos, provando que ele
era humano.
É
uma grande tristeza Eusébio não ter vivido mais anos de felicidade e de
exemplo. São muitas as pessoas, de todas as idades e de todas as profissões,
cujas vidas vão piorar por Eusébio já cá não estar.
A
morte de Eusébio é uma tragédia. As tragédias choram-se. Não se celebram. A
imortalidade já era dele. Não serve de consolação nenhuma. Era imortal e bem
vivo que te queríamos, querido Eusébio.
Obrigados por tudo o que nos deste, a
começar por ti.
Miguel
Esteves Cardoso, in www.publico.pt/desporto,
de 05/01/2014
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