“Nasci dura, heroica, solitária e em pé.
E encontrei meu contraponto na paisagem sem pitoresco e sem beleza. A feiura é
o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual. E
desafio a morte. Eu – eu sou a minha própria morte. E ninguém vai mais longe. O
que há de bárbaro em mim procura o bárbaro e cruel fora de mim. Vejo em claros
e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira. Sou uma
árvore que arde com duro prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o
mundo. Eu amo a minha cruz, a que doloridamente carrego. É o mínimo que posso
fazer de minha vida: aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.
Clarice
Lispector, in Água Viva
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