Olin-Pin,
abastado negociante de óleos e arroz, vivia numa imponente mansão em Kin-Tipê.
A sua posição social e a sua mansão só não eram perfeitas porque, à direita e à
esquerda da propriedade, havia, há algum tempo, dois ferreiros que ferreiravam
ininterruptamente, tinindo e retinindo malhos, bigornas e ferraduras.
Olin-Pin,
muitas vezes sem dormir, dado o tim-pin-tin, pan-tan-pan a noite inteira,
resolveu chamar os dois ferreiros, e ofereceu a eles 1000 iens de compensação,
para que ambos se mudassem com suas ferrarias. Os dois ferreiros acharam
tentadora a proposta (um ien, na época, valia mil euros) e prometeram pensar no
assunto com todo empenho.
E
pensaram. E com tanto empenho que, apenas dois dias depois, prevenidamente
acompanhados de oito advogados, compareceram juntos diante de Olin-Pin. E
assinaram contrato, cada um prometendo se mudar para outro lugar dentro de 24
horas. Olin-Pin pagou imediatamente os 1000 iens (que a essa altura já eram
10.000) prometidos a cada um e foi dormir feliz, envolvido em lençóis de seda e
adorável silêncio. Mas no dia seguinte acordou sobressaltado, os ouvidos
estourando com o mesmo barulho de sempre.
E,
quando ia reclamar violenta e legalmente contra a quebra de contrato, verificou
que não tinha o que reclamar. Os dois ferreiros tinham cumprido fielmente o que
haviam prometido. Ambos tinham se mudado. O ferreiro da direita tinha se mudado
pra esquerda e o da esquerda tinha se mudado pra direita.
MORAL: CUIDADO QUANDO A ESQUERDA E A DIREITA ESTÃO DE
ACORDO.
Millôr
Fernandes, in Fábulas fabulosas
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