“Não
há verdade, nem necessidade absoluta. Chamamos verdadeiro a um conceito, que
concorda com o sistema geral de todos os nossos conceitos; verdadeira a uma
percepção, que não contradiz o sistema das nossas percepções; verdade é
coerência. E, no que respeita a todo o sistema, ao conjunto, dado que, fora
dele, não existe nada que seja para nós conhecido, não podemos dizer se é ou
não verdadeiro. É imaginável que o universo seja, em si, fora de nós, muito
diferente daquilo que nos parece, ainda que esta seja uma suposição que carece
de todo o sentido racional. E, no que toca à necessidade, há uma necessidade
absoluta? Necessário não é senão aquilo que é, e enquanto o é, pois que, noutro
sentido mais transcendental, que necessidade absoluta, lógica, independente do
fato de que o universo existe, há de que haja universo ou qualquer outra coisa?
O relativismo absoluto, que não é mais
nem menos do que o ceticismo, no sentido mais moderno desta denominação, é o
triunfo supremo da razão raciocinante.”
Miguel
de Unamuno, in Do Sentimento Trágico da Vida
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