“Nos
jornais, em conversas, no escritório, a impetuosidade da linguagem leva por
vezes uma pessoa a perder-se, daí a esperança, que salta da fraqueza
temporária, de uma repentina e mais forte iluminação mesmo no momento seguinte,
ou de uma forte confiança em si próprio, ou mero desleixo, ou uma impressão
forte e atual de que uma pessoa quer a todo o custo descarregar no futuro,
portanto a opinião de que o verdadeiro entusiasmo no presente justifica toda e
qualquer confusão futura, ou o deleite nas frases que se elevam no meio com um
ou dois empurrões e que a pouco e pouco abrem completamente a boca mesmo que
depois a deixem fechar com demasiada rapidez e tortuosidade, ou a leve
possibilidade de um juízo claro e decisivo, ou o esforço para dar mais fluência
ao discurso que realmente já acabou, ou o desejo de abandonar à pressa o tema
se assim tiver de ser, de rastos, ou o desespero que tenta encontrar uma saída
para a sua pesada respiração, ou o anseio por uma luz sem sombra — tudo isto
pode levar uma pessoa a perder-se em frases como: ‘O livro que acabei agora mesmo
é o mais belo que jamais li’ ou ‘é tão belo, como nunca tinha lido outro assim.’”
Franz Kafka,
in Diário
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