terça-feira, 9 de abril de 2013

Soneto de meditação - XII

Por que somos servidos por todas as criaturas?
Por que os elementos, tão pródigos, me dão
Vida e alimento, se eles são substâncias mais puras
Que eu, e não se destinam, como eu, à corrupção?
Por que toleras tudo, estúpido cavalo?
Por que mostras fraqueza enquanto vais às cegas
E docilmente, touro, se o homem a quem te entregas
E que te mata, podes muito bem devorá-lo?
Sou mais fraco, ai de mim, e sou pior que vós,
Que não pecastes nunca, e assim nada temeis.
Milagre dos milagres, pois foram para nós
Subjugadas as coisas, conforme obscuras leis;
E o seu Criador, que nunca um erro cometeu,
Por nós, suas criaturas, e inimigos, morreu.
John Donne – Tradução de Afonso Felix de Sousa

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