“O
historiador pertence ao devir que descreve. Está situado após os
acontecimentos, mas na mesma evolução. A ciência histórica é uma forma de
consciência que uma comunidade toma de si mesma, um elemento da vida coletiva,
como o conhecimento de si um aspecto da consciência pessoal, um dos fatores do
destino individual. Não é ela função simultaneamente da situação atual, que por
definição muda com o tempo, e da vontade que anima o sábio, incapaz de se
destacar de si mesmo e do seu objeto?
Mas,
por outro lado, ao contrário, o historiador busca penetrar a consciência de
outrem. É, em relação ao ser histórico, o outro. Psicólogo ou filósofo, observa
sempre do exterior. Não pode nem pensar o seu herói, como este se pensa a si
mesmo, nem ver a batalha como o general a viu ou viveu, nem compreender uma
doutrina do mesmo modo que o criador.
Finalmente, quer se trate de interpretar
um ato ou uma obra, devemos reconstruí-los conceitualmente. Ora nós temos
sempre de escolher entre múltiplos sistemas, pois a ideia é ao mesmo tempo
imanente e transcendente à vida: todos os monumentos existem por eles mesmos
num universo espiritual, a lógica jurídica e econômica é interna à realidade
social e superior à consciência individual.”
Raymond
Aron, in Introdução à Filosofia da História
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